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Experimentalista

Um guia, uma ideia, uma sugestão, ou apenas um sítio onde vir dar um passeio

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Um guia, uma ideia, uma sugestão, ou apenas um sítio onde vir dar um passeio

Seg | 19.12.16

Ser pró-divórcio

Sarah

Eu, por norma, sou pró-tudo o que respeite o outro e o faça mais feliz mas o caso do divórcio é-me muito mais sensível.

Sou filha de pais divorciados. Nada de estranho, ou de traumatizante, mas apenas acho que eles se divorciaram tarde demais sendo que, o certo, era talvez nem se terem casado. Vamos por partes.

Nunca nos faltou nada lá em casa. Nós, os miúdos, sempre andámos bem vestido, bem alimentados, tivemos brinquedos e animais de estimação, ou seja, os meus pais até eram um casal bastante funcional, excepto no ponto em que não era nada mais do que isto: funcionais. 

As discussões eram épicas, o ambiente não era de cortar à faca mas a serrote, e eu lembro-me, ainda miúda, de pensar com as minhas bonecas que separados faziam melhor figura. E a verdade é que fazem! 

Os meus pais, divorciados, passam a noite de natal juntos, com os filhos e mais 19384464 pessoas, tudo na mesma casa. Os meus pais, Divorciados, criaram uma dinâmica tão boa de "eu compro o bacalhau e tu arranjas as couves" que se tornaram os compradores e arranjadores oficiais de bacalhau e couves. Os meus pais, divorciados, falam ao telefone entre si quando o assunto somos nós, os seus eternos gaiatos. Os meus pais, divorciados, tornaram-se um melhor casal separados do que juntos e é neste ponto que eu quero bater com muita força: 

 

Vocês, casal, não são felizes não é? Em tempos até foram, até se amaram, muito ou pouco isso já não interessa pois já não há amor. Vocês pagaram contas em conjunto e foram de férias os dois. Tiveram momentos em que gostaram menos do outro e momentos em que pensaram que seria para sempre. Tudo verdade não é? Mas agora estão num ponto em que a existência do outro nem aquece nem arrefece e já começa a incomodar muito. E o pior, têm agora um ou mais resultados desse amor de tempos idos a brincar no chão da sala. Então se já não são felizes, porquê esperar até abrir a guerra? É pelo empréstimo da casa que agora vai ter que se vender e isso vai ser uma trabalheira? É pelas malditas "partilhas" que vão meter advogado e papelada, e isso vai ser uma trabalheira? É pela má imagem que vão dar ás outras pessoas se se divorciarem, e isso vai ser uma trabalheira?

Sabem o que vai ser mesmo uma trabalheira? Colocar uma pessoa demasiado pequena e sem qualquer tipo de responsabilidade pelas vossas quezílias no meio de um conflito armado só porque vocês, adultos, se recusam em seguir as vidas separadamente.

Meus caros: sofás e carros vendem-se ou dividem-se, crianças não e se vocês amam as vossas mas já não amam os outros 50% com quem as fizeram, saiam dessa relação! Ninguém está casado para sempre e se o vosso lar de paz e sossego se vai tornar um campo de batalha então desistam! Desistir para ser feliz não é feio, mas antes, de uma coragem imensa. Desistir pelo bem de terceiros não é fracasso mas altruísmo e desistir para não se tornar um filho infeliz é o supra-sumo da prova de amor. Quem me dera que os meus pais se tivessem divorciado mais cedo.

A noite de natal está à porta e acredito que deve ser doloroso dividir a nossa criança nesta altura mas se tivemos a sorte de a fazer com a pessoa certa, tudo se combina e toda a logística será a melhor para todas as partes. E, acima de tudo, antes de serem vossa propriedade, os filhos também são gente e também merecem estar em paz e viver essa paz.

E, quem sabe, não seriam hoje o meus pais mais felizes?

E olhem para esta imagem. É uma carta verdadeira, escrita por uma filha ao pai recém-divorciado da mãe.

 

 

Entendem o que quero dizer?

Sarah

 

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