Há uns anos deixei de ser grande fã do Natal. Da correria das compras, do menino Jesus da minha infância se ter tornado um velho gordo e barbudo vestido de vermelho, da parte do "prendas agora só para os crescidos" e eu só tenho é tamanho e não acho justo......por vários factores o Natal tornou-se mais um jantar.
Até este ano.
Este ano tenho uma menina Jesus gorda-repolha-com-bochechas-até-aos-ombros e só me apetece arranjar umas palhinhas e tirar fotos que um dia mais tarde a vão envergonhar muito.
Este ano tenho um namorado a roçar o fora de série. Primeiro porque me tira do sério mas, acima de tudo, porque depois de uma relação abusiva e de 3 anos de solidão tenho um tipo do meu lado que, numa concentração de modelos, me sussurra ao ouvido "és a mais gostosa que aqui está". E porque me bate palmas quando brilho no trabalho, e me dá colo quando me sinto um lixo. Sim, ele enerva-me muito, mas melhorou imenso o meu mundo
Este ano já estou gorda por isso posso comportar-me como o Náufrago assim que vir a mesa do Natal e jogar-me sobre o arroz doce, a aletria, os sonhos (de abóbora, de cenoura e simples) o tronco de natal, os coscorões, as filhózes.....e sim vai haver bacalhau mas, a essa hora, já eu estou com uma caneta de insulina no bucho.
E este ano....vou ter, pela primeira vez, a nossa casa. Não somos casados, não namoramos há 30 anos e não saio de casa virgem para casar de branco e aqui, a minha única questão é: acham que o menino Jesus me vai trazer presentes?
Há uma marca de que gosto muito. A Penelope & Amelie é uma marca de t-shirts para cool mums e cool kids. Têm sempre um pormenor, uma frase, um bordado. Há um mês, mais coisa menos coisa, comentava com uma amiga que andamos as duas, literalmente, aos papéis. Sabemos que não estamos felizes onde estamos mas para onde queremos ir, ainda é um mistério, mas demos por nós a comentar esta marca, a reconhecer a qualidade e o design das peças. Mas, mais uma vez, o como e o quando voltou a cair em saco roto. O pior é que a ansiedade que andou tão controlada e bem comportada nos últimos tempos voltou com tudo.
Sim, sou ansiosa, sou tremendamente ansiosa. Quando me apresentam um cenário, por mais básico que seja, consigo ver 30 resoluções possíveis para o mesmo. Todas elas negativas. E, no meu pico de ansiedade, não durmo nem como. Claro que fico gira, "fit", tudo me serve, mas quando o corpo perde 10kg em pouco mais de 20 dias, não há reflexo que nos anime. Então, depois deste post da autora da marca, Ana Jorge, resolvi ir ao baú e trazer de volta as minhas linhas.
O resultado? Mostro em baixo
A minha Frida Khalo, bordada em ponto atrás, ponto cheio e ponto folha, num saco de pano cru, 100% algodão. Pensei no saco de pano porque eu ando sempre com um saco na mala, não vá uma ida ao supermercado apanhar-me desprevenida. Vai ser prenda de anos e de natal de uma amiga louca pela Frida e, por isso, não me podia ter dado maior gozo bordá-la.
Coisas que aprendi entretanto:
-Bordar é a coisa mais relaxante que já fiz na vida. Cá yoga ou ginásio, nem ler, me deixa assim. Concentrada, focada, metódica.....capaz de pensar com clareza.
-Há linhas e linhas: ainda que as Anchor sejam mais baratas (75cnt na Zora) as DMC são muito superiores (90cnt também na Zora, a Meca das jeitosas de mãos). A linha das DMC é mais brilhante e macia, mais fácil de dividir o fio e deixa o bordado com um ar mais "arrumadinho".
-Há mais pontos do que os que a minha mente consegue decorar. Valha-nos o S. Youtube, que nunca nos falha, Ámen.
-Fazia disto vida. Genuinamente. Era capaz de lançar uma marca de sacos de pano bordados à mão.
A semana passada andava pelas redes sociais um vídeo de um cão a receber festas de um urso polar. Fofo não é? Se a Disney visse já tínhamos o novo conto do natal quase pronto. Contudo, eu, que não percebo nada disto, ao ver as imagens, percebi que o cão estava num nível de stress de bradar aos céus. E eu nem gosto de cães, nem lhes acho muita piada, mas achei imensamente triste ver o animal naquele estado.
Hoje, li aqui a noticia sobre o que realmente se passava naquela gravação:
As imagens foram gravadas em Churchill, Manitoba, uma cidade do gélido Canadá. Todos os anos, os ursos polares procuram comida e abrigo nesta região até habitat deles voltar a estar gelado. Contudo, como já todos nós sabemos (excepto o Sr. Trump) as calotes polares estão a descongelar muito mais depressa do que a voltar a congelar, ou seja, os ursos polares passam por períodos de fome e privação.
Como a espéie humana é muito inteligente, um tipo com um terreno numa localização onde os ursos polares costumam aparecer, decidiu colocar os seus cães de trenó como isco para os turistas. É que a zona, nesta altura, vê nas visitas do turistas uma grande fonte de rendimento. Perante isto, o tipo prende os cães longe de casa e lança-lhes carne. Que os ursos, famintos, vão cheirar. Resultado? Sabem a cena do Jurassic Park, do T-Rex e da cabra? É exactamente o mesmo que se passa aqui: os ursos começaram a atacar os cães, que são o isco e, só a semana passada, os guardas nacionais tiveram que sedar dois ursos, um deles, uma mãe com uma cria.
Lembram-se do caso do tigre e do bode, os bff para a vida, de um zoo na malásia? O bode morreu de "causas naturais" algum tempo depois. Tal como estes cães, que são agora presas de ursos polares, para entretenimento humano. Nós somos mesmo uns sick bastards não somos?
Ontem eu e o Querido (por razões que ainda nos ultrapassam) estávamos jantados às 19h30. Resultado, ás 21h00 era uma fominha naquela casa que por todo o lado se ouviam roncos estomacais, até parecia trovoada mas dentro de casa.
Então, enquanto o Querido jogava Playstation (sim....é um adulto, maior de idade) eu fui à procura de uma receita de scones "para totós" que é como quem diz, impossível de correr mal num domingo à noite e feita em cima do joelho.
Encontrei uma que, por acaso, é a receita da Mimosa, mas como eu sou uma rebelde, usei manteiga do Continente (tomaaaa).
Então, reza assim:
-225g de farinha
-40g de açúcar
-1 colher de chá de fermento (se a farinha for da que já tem fermento, dispensem este passo)
-1 colher de sopa de manteiga (de preferência sem sal)
-1 pitada de sal
-6 colheres de leite
-1 ovo
Método
Juntar todos os sólidos e misturar. Numa tigela, colocar o ovo e bater. Juntar o leite (que pode ser com sabores, para lhes dar outra graça) e a colher de manteiga, que convém estar amolecida. Misturar tudo com a ponta dos dedos mas sem amassar, para a mistura manter o "ar" e assim os scones ficam mais fofos. Quando a massa estiver homogénea, façam quatro bolinhas e disponham num tabuleiro untado e polvilhado com farinha.
Levar ao forno a 170º, na prateleira do meio, durante 10 ou 15 minutos. Ou até ficarem dourados. Já convém ter o forno pré-aquecido para eles levarem logo um entalão mal entram no forno.
Et voilá! Se tenho fotos? Tenho, mas apenas no meu imaginário. É que estes foram os primeiros scones que me saíram bem, em 20 anos de lides culinárias. Ora me ficavam hóstias, ora os podia mandar à cabeça de um bandido e assim, imobilizá-lo. Mas ontem, os meus ricos scones, ficaram perfeitos. Crocantes por fora e macios por dentro.
Em alteração à receita, passarei a fazer só com metade do açúcar. Sentia-se demais o doce e os scones devem ser um bolo quase neutro.
Comam-nos acabados de sair do forno, com geleia, doce ou manteiga. Ou sejam uns javardões como nós e comam-nos com tudo ao mesmo tempo. Só nestas alturas adoro o inverno.
A única coisa que gosto no Inverno e no tempo frio é que volto aos chás bem quentes e ás tardes de manta no sofá. De resto, eu era feliz num paraíso da América do sul, com água a 30º e mojitos à distancia de um "apetece-me".
Então este ano, divagando pelas prateleiras do Continente (foi onde os comprei) vi que a Tetley tinha lançado uma colecção de Inverno, com três novas variedades de chás sendo que hoje, apenas vos falarei de duas.
Presenting
DETOX e IMMUNE da Tetley
Parece coisa saudável não é? Estou a 20kg de ser uma fit blogger, atentem no que vos digo. Mas não, eu apenas consumo estes chás como um placebo, como é o caso do detox.
Dos dois, o detox é o meu favorito. Tem um sabor muito suave a menta e depois do almoço é do melhor que há, pois ajuda na digestão e ainda dá aquele aquecimento interno. É enriquecido com selénio e coisas boas, tudo pensado nas Dori´s deste mundo (eu) que dão uma volta ao aquário e já não sabem onde estão.
Já o immune saiu-me melhor que a encomenda. É um chá com gengibre e o gengibre não é sabor para meninos. Eu gosto, como-o aos kgs no japonês mas a maioria das pessoas não gosta. Neste chá o sabor também é muito suave mas só uma respiradela por cima do vapor já nos desentorpece as entranhas. Tem também um sabor cítrico e está enriquecido com vitamina C, óptimo para as flores de estufa como eu.
O preço não é o melhor......em promoção, comprei-os por mais de 2€ o pacote. Fora a promoção está muito perto dos 3€ e meio, o que para chás de supermercado, é caro. Mas estou muito satisfeita.
Agora é só comprar as cookies de chocolate e alugar um filme no videoclube da tv e preparar-me para um fim-de-semana de gordetxi!
Sim, Bob Dylan, todos nós sabemos que tu não ligas ao protocolo, que não gostas de seguir as massas nem ligas nenhuma a prémios, muito menos, quando não te inscreveste para ele. Que és um tipo que vive na sua bolha de estranheza (não critico, atenção) e que para ti, ter ganho o Nobel da Literatura ou a Presidência dos Estados Unidos vai tudo dar ao mesmo.
Contudo....não tinhas que ser parvalhão não é? Porque, primeiro, não respondes ás chamadas da academia sueca. Eu entendo, também detesto falar ao telefone e, se me ligam muitas vezes, assumo logo que é a malta da vodafone a vender-me coisas. Só que também não havia necessidade de enviares uma carta a dizer que "tinhas que ir a sítios e fazer coisas" e que por isso não vais à entrega do prémio.
Isto para mim só se justifica se estivermos a falar destas coisas:
-Já tinhas programado cabrito para o almoço nesse dia, feito por ti, e é coisa que exige atenção ao forno;
-Já tinhas programado ir até à Casa Branca e dizer que se é estranho tu seres Nobel da literatura, mais estranho ainda é o Trump ser Presidente;
-Já tinhas programado uma consulta no dentista e, God Knows, o quão difícil pode ser ir ao dentista;
-Já tinhas programado fazer uma endoscopia aos intestinos e, esta alteração de datas, vai estragar todo o trabalho de meditação e preparação a que te tens sujeitado. É que tu, Bob Dylan, não és menino para anestesias e aquilo ainda é grossinho.
É que, com todo o respeito que lhe tenho Sr. Bob Dylan, há malta que dava o c* e 10 tostões para ter um livro publicado. Quanto mais um Prémio Nobel da Literatura.
Eu também não ligo nenhuma à Bota de Ouro mas, se a FIFA/UEFA/pessoa que manda naquilo me convidasse para lá ir receber um sapatinho de jogador, eu até era menina para ir a uma loja cara e pedir um vestido emprestado.
Sinceramente,
Uma dessas pessoas que daria o c* e 30 tostões para ter um livro publicado.
Queria ir ao LEFFEST mas confesso que não sou uma intelectualóide disposta a pagar uma soma ainda razoável para ver um filme só porque, efectivamente, é um filme e vai passar numa sala de cinema. Contudo, este ano devo dizer que o cartaz do festival esteve muito muito bom e, pelas palavras de Paulo Branco, o público português aderiu como nunca antes. Talvez não sejamos todos uns quadradões que só come o que vem dos blockbusters americanos e isso da-me muita alegria. Trabalho com cinema em Portugal e, por cá, fazer um filme, dá tanto trabalho, esforço e exige tanto de nós como parir. Os nossos filmes não são realizados, são paridos.
Então depois de conferenciar com o Querido (que me disse logo XAXADAS NÃO!) decidimos ir ver o filme da sessão de encerramento: Nocturnal Animals de Tom Ford (um 8 no IMDB).
Para quem o conhece enquanto estilista, ele é aquele homem que capaz de transformar a dona Dolores na Michelle Obama, tal não é a elegância, o corte e o perfeccionismo com que as suas peças são feitas mas, se na moda, os maneirismos e o apurado sentido estético são necessários, no cinema, podemos cair na farsa dos costumes, tornado o filme previsível, mas aqui isso não aconteceu, de todo.
Primeiro, a evolução de Tom enquanto realizador. As transições entre cenas são brilhantes e a estética, a fotografia do filme, deixaram-me de queixo caído. Os personagens não têm um cabelo fora do sítio, excepto, quando têm que ter. A banda sonora também está muito boa e não imagino o filme com outro som que não o de Ludovico Einaudi. Brilhante.
Já a história é duríssima, não é de todo um filme de família. Vejam aqui a sinopse mas basicamente é a história de um ex marido que faz um comeback tremendo, abalando a ex mulher, interpretada pela Amy Adams que, a par com o Jake Gyllenhaal, está brilhante. O Jake então.....caramba, para mim é o "novo" DiCaprio na corrida ao óscar: já são tantos e tão bons os filmes que ele protagonizou, que é uma pena vê-lo ainda sem um Oscar na estante.
Outro actor que me surpreendeu foi o Michael Shannon. Foi o primeiro papel em que o vi com olhos de ver (para lá da cara laroca) e só vos digo isto: lembram-se do McConaughey no Dallas Club? Está muito por aí.
Da minha parte.....o filme é perturbador mas hipnótico. Há cenas de violência mas nunca gratuita. A transição constante entre o bruto e o belo é tão bem feita que não conseguimos desligar do ecrã. Há momentos assustadores, que mexem com os medos que todos nós temos. E estamos a falar de um filme premiado em Veneza e Cannes, e não é qualquer filme, especialmente vindo de um homem da moda americana, que consegue isto. Da minha parte apenas um reparo: o Tom ainda tem que aperfeiçoar a riqueza dos diálogos. Alguns saíram muito forçados, tal como o momento "alto" do filme me pareceu um pouco "ahhh então mas como é que eu agora mato este gajo?".
Deixo-vos o trailer e a recomendação de que o vejam. Até o Querido saiu da sala sem palavras.
Acordo. Na mesa de cabeçeira o telemóvel mostrava uma luzinha azul, sinal de notificação. Um amigo partilhara um vídeo do Cohen, mas porquê? Partiu, o nosso man partiu hoje.
O Cohen é o meu guilty pleasure do vinho tinto, dos vestidos pretos e justos, dos saltos altos que magoam os pés mas que fazem umas pernas lindas, dos livros que não lemos em público, da troca de olhares que não devia ter acontecido.O Cohen é um escritor que nunca quis ser cantor mas que tem uma voz que fecunda qualquer ouvido, principalmente os de uma mulher. O Cohen canta-nos ao pescoço, respiração ritmada, e faz amor com quem o ouve, seja homem ou mulher, cristão, judeu, budista, cientologista ou apenas adorador do sagrado tom da sua voz. A sua Marianne partiu à escassos 3 meses e nós, comuns mortais, não podíamos pedir que ele ficasse por cá muito mais tempo por não?
E é isto que eu adoro, acima de tudo, no Cohen: é literário, romancista, fala o que pode ser cantado. Escreve e canta como se fosse infeliz e, quem não gosta de um cantor infeliz, alguém que canta para aquilo que somos naquele momento? Ele nunca conseguiu o amor e uma cabana com a Marianne mas que homem não gostaria de ser lembrado, pela mulher que ama e sempre amou, como "senti-me atravessada por um feixe de luz?", ao ouvi-la falar do primeiro encontro?
Este ano está a arruinar a minha lista de cantautores mas em contrapartida, a prateleira dos vinis vai ficando composta. Sim, o Cohen merece os vinis. So long Mr. Cohen. Este ano o Divino vai ter um jantar de Natal invejável.
Dance me to the end of love....este misto de Piaf e Cohen
Aqui neste cafofo, tive os primeiros haters e os primeiros comentários apagados. Senti-me tão Trumpesca, até mesmo Jungesca, e confesso que senti um prazer imenso em fazê-lo.
Também pude perceber (como se já não o tivesse percebido) que a maioria das pessoas, mesmo as que defendem a democracia com unhas e dentes, ignoram e abominam por completo um dos seus mais caros princípios: o direito à opinião do outro, principalmente, quando diverge da nossa.
Que o ser humano adora o comentário anónimo, o apartidarismo, a crítica e a resposta "mordaz" do "sua cabra! Devias era ir para *sítios*, fazer *coisas*" mas sempre tudo muito relacionado com a fixação no anal alheio. Vindo a sua maioria de homens, sois todos uns marotos ansiando a altura do toque rectal, hein?
Mas também vi que há comentários e comentadores cultos e instruídos, que há gente que gosta de pensar e argumentar livremente e que aceita o direito à opinião e à diferença.
Por isso, com americanos ou sem americanos, o mundo continua um sítio onde eu muito de estar pois a realidade consegue, por tantas e tão boas vezes, suplantar-se à mais criativa ficção. E eu adoro isso.