Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Experimentalista

Um guia, uma ideia, uma sugestão, ou apenas um sítio onde vir dar um passeio

Experimentalista

Um guia, uma ideia, uma sugestão, ou apenas um sítio onde vir dar um passeio

Sex | 30.12.16

Eu prometi que não faria balanços.....

Sarah

Mas sou tão Maria vai com as outras que não aguentei o xixi e lá vou eu.

Em suma, 2016 foi o ano mais estranho de sempre! Se por um lado, desconsegui tantas coisas e hoje sinto um cansaço acumulado e um corpo enfraquecido e que já não cura as gripes, por outro, foi o melhor ano desde 2011. Sim, 2011!!! Acho que depois de 2013, tem que se ser um ano muito fdp para eu o considerar pior e 2016, na realidade, não o foi.

Se a nível mundial foi um ano de "não acredito!" e de "vais ver que ainda acontece", a nível pessoal também foi exactamente isso que senti, mas para as coisas boas. Vamos lá resumir isto:

 

1- Ainda não tenho um trabalho bom, seguro, que me dê confiança, mas tenho o melhor chefe de sempre. Sabem quando fazem uma borrada (ainda hoje!) e esperam gritaria e insultos e a pessoa apenas respira fundo e pede para resolver? É um desses. E aqui me apercebo como, mais uma vez, 2016 foi de dicotomias: há um ano atrás, ainda tinha contacto com um patrão demoníaco e a mula (sem ofensas Mulinha) da mulher. Esses dois iam-me deixando louca, ponderei mesmo dar uma carga de pancada a cada um deles. E hoje, um ano depois, trabalho com um tipo a quem daqui a pouco darei um abraço e desejarei um sentido feliz 2017. 

 

2- Nasceu o pequeno milagre da família. A menina do meu irmão foi a maior e mais improvável surpresa de 2016: estamos a falar de um casal com um filho com mais de 10 anos que, depois de um parto traumático e uma gravidez que demorou a pegar, tinha desistido de ter filhos. E, de repente, a notícia de vir uma menina a caminho. Um torrão doce e cor-de-rosa, uma menina que gosta e pede abraços, uma menina que dorme em qualquer colo e que gosta de mantas de pêlo. Uma menina que eu esperei à porta da maternidade, rezando literalmente, "a quem estivesse a ouvir!". Uma menina que, parida por mim, não a amaria mais.

 

3-Encontrei, sei-o, o pai dos filhos que um dia terei. Eu não sou boa de aturar, sei disso. Eu sou a personificação da cantiga do Variações, eu só quero estar onde não estou, eu só quero ir onde não vou e ele, aceita tudo isto, e fica. E mostra-se um farol para um barco permanentemente à deriva, eu. Se somos tantas vezes tão diferentes, outras tantas, somos um fruto da mesma árvore. Ele não podia ser mais diferente de mim e, ainda assim funcionar tão bem.

 

4-Saí de casa da mãe para morar com o Querido. O drama, o horror e a tragédia! Saio de casa para "morar em pecado" com um homem 7 anos mais velho que eu, que já viveu outros relacionamentos mas, "ao menos" não tem filhos. E sabem que mais? Saí de cabeça erguida! Procurámos esta casa durante meses até que ela nos caiu no colo e, como o que tem que ser tem muita força, em 4 dias a casa era "nossa", tínhamos a chave na mão. E tem-nos sabido pela vida ter este canto, entrar num sítio e fechar a porta. A cozinha é minha, o meu reino, sem argumentações ou "isso não se faz assim!". Tenho a "minha casa" e ai de quem ma quiser tirar!

 

5-Engordei 8kg da boa vida, dos passeios, dos petiscos, das garrafas de vinho, das férias. E talvez por isso seja tão difícil perde-los: são quilos muitos felizes, de uma felicidade que o corpo se recusa a abandonar...cabrão.

 

6-Perdi amigos, senti-me muitas vezes dolorosamente sozinha. Senti que ninguém me entendia e que estava sozinha no mundo, no universo. Não sei se fui eu que me isolei ou se foram os outros que se afastaram. Mas sei que este ano deixei de fazer favores. Não vou aonde não quero ir, não como o que não gosto, não aceito o que não concordo e com isto vem o "quem quer come, quem não quer, deixa no prato". Não sei se o feitio apurou ou não mas hoje sei com quem posso contar: comigo. 

 

7-Fiz os 29 anos com os pés de molho no mar da Riviera Maya, água quente ás 22h00. E eu só pensava o que haveria de fazer com a minha vida, sem um emprego de jeito e sem dinheiro para "me aventurar no mundo novo da descoberta do eu". É que é muito bonito tirar um curso novo, descobrir uma nova carreira, aventurar por uma nova profissão, mas de cursos sem resultados estou eu farta! Eu quero acção e reacção, quero soluções, chamadas, emails respondidos, novidades. Acima de tudo, novidades.

 

E no fim deste balanço, ainda não sei como classificar 2016, ficando assim na minha pasta cinzenta. Cinzento....uma cor que o Querido me ensinou: que nem tudo pode ser preto no branco. (Nada a ver com as 50 sombras seus atrevidos!!).

 

Venha de lá 2017, ano para o qual guardo uma tremenda expectativa e que vou iniciar num casamento! Vixe!

 

 

Sarah

Ter | 27.12.16

Rais´parta os criativos!!

Sarah

Andava eu em amenas combinações com os amigos para mais uma bem sucedida e bem regada passagem de ano, quando me comunicam que, nesta noite, vou a um casamento.Oi? Isso mesmo, na véspera de ano eu e o Querido vamos sair de casa ás 13h, vestidos como se fôssemos para uma noitada, arranjados como quem vai para a passagem de ano, e vamos para um casório, festarola da boa! 

Passado o desespero inicial, mandei-me numa busca por "rupinha" de festa, que ficasse bem nos dois eventos: casório e festa da PDA. Acabei na Zara, a comprar um vestido que vai ter que dar para o casamento a que vou em 2017 e sabe-se lá mais quantos eventos que eu não sou a Dona Kate inglesa. Aparentemente tudo está resolvido, contudo, tenho algumas questões:

 

-Vou para um casamento atrás do sol posto com um vestido que fazia, na boa, um Reveillon num casino. Quão má falada vou ficar?

-O vestido é de modelo justo, não disfarça nada. Ora estamos em época natalícia e o meu rabo já tem os seus próprios planetas e campo gravitacional. Quão mal falada vou ficar?

-O Querido diz que fico "muita boa!". Quão mal falada vou ficar?

-Eu sei que o dia é da noiva mas eu não tenho culpa de ser uns bons 20 cm maior que a rapariga. Quão mal falada vou ficar?

 

Que acham? Acham que me voltam a convidar para mais festas?

 

 Sarah 

Ter | 27.12.16

Só se estraga uma casa #7

Sarah

Desde que moramos juntos que as matérias para relato em blog são cada vez mais e cada vez mais frutíferas. A que vou contar hoje, passou-se exactamente assim, para vergonha minha. Para muita vergonha mesmo.

Até aqui, apenas existia um instrumento de uso culinário que despertava em mim os mais fundamentados ódios e queimaduras: a cloche, ou patusca. Não havia vez nenhuma que eu mexe-se naquilo e não me queima-se ou não andasse pela cozinha à procura de um local suficientemente seguro para pousar aquela tampa demoníaca. Colocar e tirar de lá os tabuleiros também é uma boa luta já que esse movimento envolvia sempre muitos panos e muitos "ai ai ai que me queimo!". Atentem que eu sou uma adulta capaz, com boa coordenação motora e moderado equilíbrio (eu mando-me para o chão sozinha, é ridículo) e trabalhar com aquela coisa é sempre sinal de dói-dói. Este era o meu ódio de estimação.....até há alguns dias atrás, quando conheci: o grelhador eléctrico. 

Esta coisinha aparentemente inofensiva deu-nos o seguinte serão em família:

 

Vai Sarah para a cozinha grelhar postas de salmão, coisa saudável. Ligo isto, e espero que aqueça, coisa que se deu em 30 segundos, ou até menos. Salmão lindo e bem temperado e pumbas na grelha. Aquilo agarra-se por todo o lado mas eu continuo o meu (aparente) bom trabalho. Salmão quase cozinhado, jantar quase na mesa, quando olho para o dito cujo e vejo chamas, labaredas, todo um show pirotécnico! Fui forte e desliguei o coiso da ficha. Boa, Sarah 1- 0 Grelhador. Até que as chamas não há maneira de desaparecerem, pelo contrário, apenas aumentam, e já a minha cozinha parecia o local de desaparecimento do D. Sebastião, tal não era a fumarada.

E foi aqui......foi aqui que me tornei uma gaja e mando um gritinho "Amoooooor".

Valeu-me o meu cavaleiro de armadura formato pijama e montado em duas pantufas, ainda de comando da PS4 na mão, que veio em meu auxílio e fez a única coisa que eu não me lembrei: tirou as postas de salmão do grelhador.

 

Querido - Como é que isto aconteceu?

Sarah - (engasgada e com as pontas do cabelo meio queimadas) Não sei.

Querido - Mas como aconteceu? O que é que fizeste?

Sarah - (meio asmática, com a cabeça fora da janela) Nada! Eu liguei o coiso e pus lá o salmão!

Querido - E água?

Sarah - Qual água?!

Querido - Sabes que este tabuleiro por baixo não está aqui para enfeitar certo? Isto leva água para não fazer fumo e não chegar fogo à casa das pessoas. Sabias isso certo?

Silêncio.....tosse, muita tosse, e mais silêncio.

Querido - Temos que comprar uma manta, daquelas que os bombeiros e os restaurantes têm. Temos pois.

 

E sabem que mais? E AVISAREM AS ALMAS INCAUTAS DE QUE TÊM QUE PÔR ÁGUA NUM GRELHADOR?!

Ele abraça-me como quem diz "tou f***, esta um dia mata-nos", dá-me um beijo e ri-se, terminando com "mas eu continuo a ter fome! o que vamos jantar?"

Atum. Atum, batatas cozidas e um ovo. 

Sobrevivemos. Eu com o ego magoadíssimo, ferido até ao seu íntimo, uma sensação de ser um adulto incapaz de salvar o seu bebé ou o seu gato (que se tivesse, já tinha fugido certamente). Ele, com um bocado de fome que atum não puxa carroça. A casa, perdeu o cheiro a peixe queimado 4 dias depois. 

Onde me inscrevo para o "Sobrevivi" da National Geographic?

 

 

Sarah

Seg | 26.12.16

Alguém pode desarmar 2016, por favor??

Sarah

É que já não se aguenta tanto artista bom a ir embora no mesmo ano! Mas isto é o quê? Uma rave party no afterlife? O melhor cartaz de sempre já não é o do alive mas o de JC? E desta vez foi-se o George Michael....

Não vou estar aqui armada em teórica musica e crítica conhecedora de toda a sua obra, porque não o sou, mas caramba, quem foi, como eu, criado pela VH1 sabe de cor muitas das suas músicas. Este tipo, enquanto artista, viu-me crescer, deixar de ser miúda e tornar-me uma mulher e se há música e videoclipe que espelham isso é o da Freedom. 

Está ali tudo! Estão ali as supermodelos, as primeiras, da altura em que as modelos se queriam com mamas, e rabo, e eram gajas boas. Está ali o primeiro videoclipe do mestre Fincher que, uns anos mais tarde, nos daria o Se7en - Sete Pecados Mortais. Está ali a sua revolta com a produtora, daí que em momento nenhum ele aparece a cantar e temos a cena do blusão a arder. Acima de tudo, está ali o arquétipo dos anos 90: mulheres lindas, homens feitos a martelo e escopo, sintetizadores e uma voz poderosíssima. A par de Madonna e Michael Jackson, o tipo foi e sempre será "os anos 90".      

 E quem nunca andou pela casa  tentar imitar a Cristy Turlington no seu lençol, ou o super sensual enrolar de toalha da Cindy Crawford? Um dia, também elas serão história. O George, infelizmente, tornou-se ontem, no seu Last Christmas.

Sarah

Seg | 26.12.16

Ho Ho Ho....ainda vou a tempo?

Sarah

Este Natal (todo o mês de Dezembro a bem da verdade) deu-me uma grande tareia. Desde a mudança para a casa nova, criar rotinas, tentar manter rotinas que não podem ser mudadas, perder muitas horas de sono, este Natal foi o equivalente a esperar 1 hora na fila para andar de escorrega: quando damos por nós, já acabou.

Já há uns anos que o Natal não sabe ao mesmo.....ainda que sempre o passe com a família, ainda que se tenha criado uma dinâmica gira entre os meus pais, faltam-me alguns dos pozinho de perlimpimpim que costumavam pautar esta época, contudo, o Querido este ano foi um grande ponto bom, uma grande prenda na minha árvore.

Uma coisa que sempre me chateou foi dar prendas porque sim. Eu prefiro receber umas cuecas, sabendo que foram escolhidas para mim, com todo o cuidado, do que receber uma coisa cara mas que "ah pois não sei se era bem isto mas toma lá!". Isto põe-me doente, pelo simples facto de que eu nunca o faço! Eu perco anos de vida e não sei como ainda não me chegaram os cabelos brancos porque eu procuro o que for preciso por uma prenda para aquela pessoa em particular. Mas o Querido....o Querido este ano pôs prendas debaixo da árvore, fez-me surpresas e abrimos as nossas prendas só os dois, na nossa casa, de mim para ti e isso trouxe de volta o Natal de que já tinha saudades.

Mais uma vez, comi o juízo. Fiz montagens de doces, pus tudo o que conseguia dentro de um pequeno prato de sobremesa, quase como aqueles programas que metem 20 pessoas dentro de um carocha. E o corpo, o corpo quase nos 30, acusou as asneiras com um cansaço ainda pior, como quem diz "caramba pa! E uma sopa? E um bife grelhado com salada? E apenas água, algo sem açúcar?!".

Como "falha minha" apenas tenho pena de não ter conseguido fazer a árvore da minha mãe. Pela primeira vez, não houve árvore de natal lá em casa, nem mesa posta, apesar de estar o clássico cheiro a doces do Natal. E começo a aperceber-me cada vez mais da idade da minha mãe, dos seus quase 70 anos e caramba, quantos Natais ainda teremos? O mesmo com o meu pai...

Posso não ser uma miúda tradicional mas gosto de tradições e eles os dois, criaram as minhas. Sinto por isso a obrigação moral de absorver tudo o que tenham para me passar, até à última gota.

E agora, se me permitem, espero que o vosso Natal tenha sido tremendamente feliz e cheio de amor, daquele amor que nos deixa quentes por dentro, por mais fria que esteja a noite. 

 

Ah e dizem que hoje é o boxing day. Se eu me meter num centro comercial nos próximos 15 dias é porque já não estou no uso total das minhas capacidades. 

 

 Sarah

Ter | 20.12.16

Os natais lá de casa

Sarah

Por mais estranho que isto possa soar, eu mal me lembro da minha infância. É tudo um emaranhado de memórias e recordações, sempre pedaços soltos, espécies de nuvens em sépia onde apareço eu e a minha família. Contudo, a maioria dessas memórias é dedicada ao natal e aos momentos que se partilhavam nessas alturas. Destes momentos lembro-me das árvores de natal que a minha mãe fazia, com pinheiros verdadeiros e que picavam como tudo mas para os quais eu adorava ficar a olhar durante horas, como se fosse um gato. 

Outra coisa que também não esqueço é o cheiro. A partir de dia 23 a casa cheirava toda a natal, que é como quem diz, a canela e mel, a limão fervido com leite, ou a sonhos acabados de fritar. Nestes dias sabia sempre melhor estar em casa, estar naquela casa. Com os anos muita coisa se perdeu, principalmente, a tradição dos presentes. Parece que naquela altura a fartura era muito menos mas havia mais de tudo: mais papel de embrulho pelo chão, mais laços de fita, mais caixas e caixotes, mais partilhas. Não sei se era por ser miúda mas a verdade é que naquela altura o natal era a altura perfeita do ano, tudo estava certo, tudo estava bem.

Como já devem ter percebido, a maioria das tradições de natal lá por casa estavam relacionadas com a comida, em doses industriais! Não que houvesse fome no resto do ano mas, para aquela noite, era feito um esforço extra, aquela extra mile de calorias e doces e coisas boas que, se podem resumir em:

 

Aletria, arroz doce, formigos (doce tipicamente minhoto), rabanadas, sonhos de abóbora, sonhos simples, molotof com doce de ovos, bolo rei, tronco de natal, coscorões (a minha perdição) e toda uma tábua de queijos pornográfica, dos macios e suaves, aos que fazem concorrência a um saco de ginástica fechado durante um mês. 

 

E tudo isto, sempre organizado pela minha mãe. Quer pudesse ou não, ela dava sempre aquele 1% a mais do que as outras pessoas, sempre teve uma maneira para fazer tudo e, por norma, essa maneira incluía a frase "tem que ficar perfeito! Não é bom, é perfeito!". Este ano as forças são menos e pela primeira vez, ouvi a minha mãe dizer "olha acaba aí tu isso que eu já não me lembro muito bem como se faz". Isto para mim foi como ouvir um louceiro a cair ao chão, o ruído dentro de mim foi igual. É que a minha mãe nunca se esquece de nada e muito menos o assumiria. Ouvi-la dizer que já não se lembra muito bem de algo que fez a vida toda é como ver o Stallone a olhar para um saco de boxe sem saber onde lhe bater, e isso custou-me mesmo muito.

Quanto À noite de Natal, já sei que será barulhenta, cheia de comida e cheiros da infância, com as pessoas a falarem umas por cima das outras e este ano com duas novas aquisições: o Querido e a nenuca-gorda-com-bochechas-até-ao-pescoço. Temos portanto, Menina Jesus e Rei Mago!

 

E por aí? Como são as vossas Consoadas (adoro esta palavra!).

 

 Esta é uma foto dos coscorões: Doce tipicamente minhoto que leva pão, mel, raspa de limão, leite e frutos secos.  Antigamente, nas casas pobres, cozer os pedaços de pão com um pouco de mel já era um luxo, agora com os frutos secos, está um luxo mesmo que os pinhões devem andar a ser lambidos pelo Papa antes de serem embalados!

 

 

Sarah

Seg | 19.12.16

Ser pró-divórcio

Sarah

Eu, por norma, sou pró-tudo o que respeite o outro e o faça mais feliz mas o caso do divórcio é-me muito mais sensível.

Sou filha de pais divorciados. Nada de estranho, ou de traumatizante, mas apenas acho que eles se divorciaram tarde demais sendo que, o certo, era talvez nem se terem casado. Vamos por partes.

Nunca nos faltou nada lá em casa. Nós, os miúdos, sempre andámos bem vestido, bem alimentados, tivemos brinquedos e animais de estimação, ou seja, os meus pais até eram um casal bastante funcional, excepto no ponto em que não era nada mais do que isto: funcionais. 

As discussões eram épicas, o ambiente não era de cortar à faca mas a serrote, e eu lembro-me, ainda miúda, de pensar com as minhas bonecas que separados faziam melhor figura. E a verdade é que fazem! 

Os meus pais, divorciados, passam a noite de natal juntos, com os filhos e mais 19384464 pessoas, tudo na mesma casa. Os meus pais, Divorciados, criaram uma dinâmica tão boa de "eu compro o bacalhau e tu arranjas as couves" que se tornaram os compradores e arranjadores oficiais de bacalhau e couves. Os meus pais, divorciados, falam ao telefone entre si quando o assunto somos nós, os seus eternos gaiatos. Os meus pais, divorciados, tornaram-se um melhor casal separados do que juntos e é neste ponto que eu quero bater com muita força: 

 

Vocês, casal, não são felizes não é? Em tempos até foram, até se amaram, muito ou pouco isso já não interessa pois já não há amor. Vocês pagaram contas em conjunto e foram de férias os dois. Tiveram momentos em que gostaram menos do outro e momentos em que pensaram que seria para sempre. Tudo verdade não é? Mas agora estão num ponto em que a existência do outro nem aquece nem arrefece e já começa a incomodar muito. E o pior, têm agora um ou mais resultados desse amor de tempos idos a brincar no chão da sala. Então se já não são felizes, porquê esperar até abrir a guerra? É pelo empréstimo da casa que agora vai ter que se vender e isso vai ser uma trabalheira? É pelas malditas "partilhas" que vão meter advogado e papelada, e isso vai ser uma trabalheira? É pela má imagem que vão dar ás outras pessoas se se divorciarem, e isso vai ser uma trabalheira?

Sabem o que vai ser mesmo uma trabalheira? Colocar uma pessoa demasiado pequena e sem qualquer tipo de responsabilidade pelas vossas quezílias no meio de um conflito armado só porque vocês, adultos, se recusam em seguir as vidas separadamente.

Meus caros: sofás e carros vendem-se ou dividem-se, crianças não e se vocês amam as vossas mas já não amam os outros 50% com quem as fizeram, saiam dessa relação! Ninguém está casado para sempre e se o vosso lar de paz e sossego se vai tornar um campo de batalha então desistam! Desistir para ser feliz não é feio, mas antes, de uma coragem imensa. Desistir pelo bem de terceiros não é fracasso mas altruísmo e desistir para não se tornar um filho infeliz é o supra-sumo da prova de amor. Quem me dera que os meus pais se tivessem divorciado mais cedo.

A noite de natal está à porta e acredito que deve ser doloroso dividir a nossa criança nesta altura mas se tivemos a sorte de a fazer com a pessoa certa, tudo se combina e toda a logística será a melhor para todas as partes. E, acima de tudo, antes de serem vossa propriedade, os filhos também são gente e também merecem estar em paz e viver essa paz.

E, quem sabe, não seriam hoje o meus pais mais felizes?

E olhem para esta imagem. É uma carta verdadeira, escrita por uma filha ao pai recém-divorciado da mãe.

 

 

Entendem o que quero dizer?

Sarah

 

Qua | 14.12.16

Tarte Tartin de Maçã Reineta

Sarah

Tenho cada vez mais a certeza de que, para mim, o emprego ideal seria ir a sítios, comer coisas e escrever sobre isso. Digo-o com o tom mais sério que possam imaginar. Eu era feliz se na minha actividade profissional conseguisse conjugar estas duas coisas: comer e escrever. Sou uma básica, dizeis vós, até posso ser, contudo, com o aparecimento de plataformas como o Zomato cada um se sente o maior avaliador Michelin, um possível júri do Masterchef e eu, não podia ser diferente. Já imaginaram o que seria, ser convidada para um manjar nortenho e no fim, ter que escrever sobre os cheiros, os sabores, as texturas? Felicidade senhores, é como isto se chama, felicidade!

 

Agora que já dissertei sobre o meu emprego de sonho, vamos lá falar de coisas boas, especialmente para esta altura do ano:

 

Tarte Tartin de Maçã reineta

 

Uma tarte tartin é basicamente uma tarte invertida, onde a massa vai por cima do recheio. Neste caso falarei da que leva maçã reineta (mais farinhenta, vai bem com este conceito de tarde) mas podem faze-la também com frutos vermelhos, morangos, etc! Com o que quiserem, sendo que no caso dos morangos, a tarde não forma fatias perfeitas por isso devem usar uma tarteira de vidro e não uma que se desmonte.

 

Receita:

1 caneca de açúcar

1 caneca de farinha

200g de manteiga (com sal)

1 ovo

6 a 8 maçãs reinetas

canela a gosto

 

Difícil não é? Misturem tudo e, se possível, levem a massa à batedeira. Fica muito mais macia. Ou batam pelo menos a manteiga e o açúcar, formando assim uma massa fofa. Regra chave: sólidos misturam-se com sólidos, líquidos com líquidos e só nos fim metemos ambos ao barulho. Uma espécie de claques do mundo alimentar. 

Quanto ás maçãs, depende muito do tamanho das mesmas. Se forem pequenas uma 8 serão necessárias (descascadas e cortadas em gomos finos) se forem uma reinetas do entroncamento do tamanho da cabeça de um recém nascido, então aí até 4 podem ser suficientes.

Para montar a tarde, arranjem uma daquelas formas de fundo amovível e coloquem no fundo, antes das maçãs, um pouco de açúcar e canela. Cortem então as maçãs em gomos finos, que não têm que ser transparentes mas apenas suficientemente finos para cozinharem sem perder a forma e encham a tarteira até ao topo, deixando apenas alguma margem para a massa. Polvilhem com mais açúcar e canela e deitem agora a massa. 

A massa é espessa pelo que não se assustem se for um pouco difícil de espalhar. Eu gosto que a minha tarte fique com um ar meio desarrumado, com picos e maçãs a espreitar.

Levem ao forno a 200º durante cerca de 20/30 minutos (depende se o vosso forno for convector ou não) até ficar dourada por cima. Deixem arrefecer um pouco e sirvam ainda morna com uma bola de gelado de baunilha (mas do bom!). 

Para mim é uma tarte que sabe ainda melhor nesta altura do ano, com o cheiro da maçã e da canela. Fica deliciosa e não se preocupem em comê-la toda de uma vez que, no frigorífico, aguenta-se na boa uma semana!

Agora ide, ide comer gordisses das boas que estamos a uma semana do natal e eu não ponho os pés no ginásio há duas.

 

 

Por alguma razão, na net só encontro fotos com a tarte de pernas para o ar (???) mas as maçãs ficam assim. E podem por as amêndoas claro!

 

 

Sarah

Ter | 13.12.16

Sobre o sucesso alheio....

Sarah

Hoje de manhã, durante o pequeno almoço, o Querido mostrava-me a capa de dois jornais espanhóis, um de madrid e um de Barcelona. No Madilenho, o Cristiano Ronaldo aparecia como um 4 de espadas, com 4 bolas de ouro. Achei a capa gira nas horas, diferente, criativa, espelhando bem o que significa este prémio, num universo de milhares de jogadores profissionais. Na capa do jornal de Barcelona, o prémio de Ronaldo era um mero rodapé, enquanto Messi aparecia em ponto grande, durante um treino, com os textos em basco. 

Ora que num jornal de Barcelona isto aconteça, já é de si expectável mas, ver isto a acontecer entre os portugueses? Ver que hoje, muitos dos comentários pelas redes sociais são a falar mal do rapaz, a chamá-lo de egocêntrico e presunçoso, armado em bom? Caramba, ele pode-se armar no que quiser pois se há coisa em que ele é, é bom! Muito bom, brilhante, um profissional de luxo, goste-se dele e da sua família ou não.

Da mesma forma, quando se fala de António Guterres, procura-se sempre o momento em que o homem se atrapalhou com as contas. Sempre! Como se isso definisse o homem e o profissional que ele é. Em Portugal, certamente o seu futuro teria sido pequenino, medianozinho, coisinho, tudo à medida do ser país. Lá fora, é o novo Secretário Geral das Nações Unidas e isso enche-me de um imenso orgulho e admiração.

E o que há de comum entre os dois? Tanta coisa senhores, tanta coisa:

-Ambos são extremamente dedicados: um ao corpo e o outro à mente. Se Ronaldo treina sem parar e faz de tudo para manter a máquina bem oleada, Guterres, na terra dos pais, deixava a brincadeira para "ir estudar e ser doutor".

-Ambos correm risco: um deixou a Madeira aos 11 anos e o outro deixou um país que não é mais do que uma corda no pescoço. Se saiu como os ratos? Talvez, mas foi para onde faz falta, e não para chairman de uma financeira internacional.

-Ambos amam o que fazem: façam o que gostam e não terão que trabalhar um único dia. Mais ou menos isto, não é? Ronaldo e Guterres são bons exemplos disso.

-Ambos são portugueses: e apesar das más línguas, dos insultos, das mais variadas formas que se encontram para rebaixar o outro, eles subsistem e vencem e eu gosto desse tipo de gente.

 

Agora, ide correr atrás dos vossos sonhos e dedicar-lhe o melhor de vós. Sim, também nisto eles são iguais.

 Sarah

Pág. 1/2