Não entendo o dia da Mulher
Não entendo, nunca entendi e não sei se algum dia vou entender o Dia da Mulher. Apenas porque eu sou mulher todos os dias, não apenas a cada dia 8 de março, ano após ano. Também não entendo o dia da mulher, o 8 de março, como o dia em que temos descontos em lojas de maquilhagem, cabeleireiros ou nos dão flores no café. A mim, sinceramente, dava-me muito mais jeito um desconto em pneus que sou eu que trato do MEU carro e o rapaz já merecia uns sapatos novos.
Também não entendo o dia da mulher, o 8 de março, como um dia em que devemos ser todas muito mais amigas e queridas umas com as outras. Até porque, o dia da mulher, o 8 de março, o primeiro 8 de março, marcou o dia em que 130 operárias de uma fábrica têxtil morreram queimadas dentro da fábrica por, imagine-se!, estavam em manifestação, pedindo melhores condições de trabalho e salários mais justos. Não, para quem não sabe, não foi um acidente: elas foram deliberadamente trancadas dentro daquela fábrica. Por quem? Pelo seu patrão, macho americano, pai de família e temente a Deus.
Mas também não tendo o Dia da Mulher porque, ainda hoje, uma mulher indiana pode ser morta em praça pública pelo pai, marido ou irmão se este achar que ela está em pecado ou a envergonhar a família. Não entendo o Dia da Mulher quando, um pouco por todo o mundo, casam meninas de 9 ou 10 anos com um homem com idade para ser seu avô, tudo porque casar com uma mulher jovem dá saúde e vitalidade ao marido. Não entendo o dia da mulher porque se eu sair à rua com uma mini saia e um decote sou uma porca, uma ordinária, até mesmo aos olhos das outras mulheres. E não entendo o Dia da Mulher porque quem cria os maxistas não são os homens mas as mulheres, as que os pariram, ao prepetuarem o culto ao "Isso são coisas de mulher que o meu filho não faz!". Não entendo o Dia da Mulher porque o facto de anatomicamente poder gerar filhos faz com que tenha menos probabilidades de ser contratada, se concorrer com um homem, ganharei menos, se concorrer com um homem, e verei o meu posto trabalho mais ameaçado, se concorrer com um homem.
Não entendo o dia da mulher porque a minha mãe foi sindicalista e não andou com florzinhas e postagens no Facebook a dizer "vamos todas unir-nos!". Isto porque a minha mãe, ia para a rua, não trabalhava, dava a cara, o corpo e o ordenado ás balas para que ela e as colegas tivessem direito a um direito que devia ser universal: ficar em casa com os nossos bebés. E valeu tanto, mas tanto a pena pois se o meu irmão mais velho teve a mãe com ele em casa um mísero mês, eu, uma sortuda, gozei do colo da minha mãe até aos 2 anos. Tudo porque ela foi à luta.
E, acima de tudo, não entendo nem nunca vou entender o Dia da Mulher enquanto ele tiver que existir, enquanto um deputado eleito disser que somos mais fracas e mais burras que os homens, ou, enquanto um presidente de um país disser que nos deve agarrar na pussy, que é disso que uma gaja gosta. Não me falem de feminismo e luta pela igualdade de género enquanto eu, mulher, não sentir que para a minha sociedade valho tanto como um homem. Não quero valer mais, apenas quero valer o mesmo.
As 130 senhoras que morreram há 106 tapariam a cara de vergonha com os "feminismos" que vou vendo por aí....se querem ver o que era ser mulher nesta altura, vejam o "Sufragistas" e depois falamos de feminismo e direitos das mulheres.
Sarah