O país anda com as prioridades trocadas
Estamos numa sociedade tão retorcida e desiludida com o comportamento do outro que quando alguém (de preferência figura pública) tem uma atitude nobre essa atitude é logo conotada de "manobra de marketing" ou então, citando essa grande escritora (*cof cof*) MRP "não há coincidências".
A última fornada de teorias prende-se com o programa "E se fosse consigo" e com a aparição da Catarina Martins ali a meio do episódio. Já li de tudo um pouco por esta internet:
-Que ela foi lá posta para dar força ao governo;
-Que quando ela diz "gostava que fosse consigo" se denunciou toda a farsa ali engendrada;
-Que é muita coincidência esta "malta da esquerdalha" andar a passear na Estrela, conhecido jardim de rico;
-Que os média são todos uma merda e agora até os comunas compactuam com isso;
Fui almoçar......comi bem.....digeri, e agora sim, sinto-me em condições de comentar este assunto mas, ao invés de dar resposta, prefiro fazê-lo com outra pergunta:
-Vós, povo teórico e de memória literária, que facilmente se entrega ao devaneio da criação e da busca do lado mau do outro: perdem pelo menos algum tempo a ver a história das 3 miúdas que apareceram com os testemunhos REAIS? Hun? Não? Prossigo: vós, povo criativo, se tendes filhas e filhos, usaram isto para debaterem com eles a noção de "não se bate ás pessoas, com flor ou sem flor" ou acharam mais graça e encanto ao facto da Catarina Martins ter aparecido e ter feito aquilo que a maioria de vós, cagões, não faria? Hun? Oi? Repitam que não ouvi!
Irrita-me e, esta semana tem-me irritado especialmente, esta necessidade de encontrar o lado mau do outro ou de automaticamente encontrar nas acções do outro uma razão para. Eu não conheço a Catarina mas se há pessoa que eu não vejo a fazer uma destas é ela. A mulher é como a Inês Castel-Branco: não ri porque lhe pedem, ri-se porque quer. Acham mesmo que se meteria numa destas? Mais, ainda que ela tenha tido uns momentos como actriz no percurso dela, a questão final é: o que é que ela ganhava com isto? A SIC pagava-lhe? É uma manobra de mostrar ao mundo que os comunistas já não comem criancinhas?
O português perdeu o foco, em tudo. Ainda que eu ache que a série está demasiado ficcionada, em todos os episódios, tem pelo menos o poder de levantar o debate e criar assunto fora as novelas e a 234ª edição da casa dos segredos e, o português, preocupa-se com a Catarina Martins.
Foram ali revelados números absurdos de violência doméstica, que agora começa no namoro. Os miúdos andam com as prioridades todas trocadas e acham que ver o telemóvel ou serem forçados ao sexo é normal e aceitável. Estamos em 2016 e o "entre marido e mulher ninguém mete a colher" continua a ser o lema de muito boa gente. Se a Catarina foi lá posta ou não a mim não me tira o sono. O que me preocupa, verdadeiramente, é que as miúdas de hoje com acesso a educação, informação e ajuda ainda se deixam bater e maltratar em "nome do amor".
Aprendam com estes ainda tenros homens que já o são, muito mais do que muito animal que por aí anda. Deste programa apenas tenho pena de uma coisa: e se fosse ao contrário? Se fosse uma mulher a bater num homem. Já era aceitável? Obviamente, não.
Sarah