Sobre a sexta-feira 13
Quando cheguei à plataforma do metro, passava nos altifalantes que a Linha Vermelha estava com perturbações....por causa de um passageiro. Para quem anda de metro em Lisboa, sabe que isto é sinal de que alguém se atirou para a linha, alguém se suicidou.
Eu não critico quem o faz, apesar de ser uma solução que não entendo. Apenas não consigo imaginar que vida poderá ser tão insuportável para que a única solução seja por-lhe um fim atirando-se para cima de uns carris, com uma composição de 10 toneladas a avançar na sua direcção.
O suicídio foi (e ainda é) uma solução para os males insolucionáveis. Desde o início dos tempos que o suicídio era a resposta para a ditadura das ideias, a ditadura dos amores, a ditadura das guerras....as ditaduras em geral, que é como quem diz, lidar com as insuportáveis imposições de terceiros. O problema é que agora eu não acho que o suicídio seja o escape de uma ditadura mas antes, o escape de um estado de profundíssima tristeza. Daquela tristeza que nos deixa problemas cardíacos e leva ao aparecimento de doenças auto-imunes. O tipo de tristeza em que a ideia de estar morto e já não sentir mais nada é tão deliciosa como o sol de Inverno num dia muito frio. Na depressão, o suicídio é isto: o morno bafo da paz que a vida já não nos deixa ter.
Não sei quem se jogou hoje na linha do metro. Não sei porque o fez, ou porque escolheu a hora de ponta, numa plataforma cheia, numa estação de confluência de linhas. Sei que ouvi os comentários: que devia ter vergonha, que "se quer morrer que se enforque mas não me atrase a vida!". Reacções de quem nunca esteve mortalmente triste, como é óbvio.
Supersticiosos ou não, na sexta-feira 13 de hoje, alguém achou que o mundo já deu o que tinha dar. Temo pelos que já assim se sentem, mas não viram no dia de hoje o momento ideal.
Sarah